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quarta-feira, julho 27

 

Fazei o que Deus quer e não o que Ele manda

O problema do fundamentalismo, cristão ou islâmico, socialista ou capitalista, é outro; não é o de advogarem doutrinas e referentes; o problema é de não deixarem na teoria e na prática, espaço para os aceitarmos. O problema é que parecem imunes ao facto de Deus nos ter conferido liberdade. (a bordo)
Estava eu em pleno processo de redacção sobre este tema para a Terra da Alegria quando li isto. Acabou-se-me a inspiração (que já não era abundante aliás). Porque em quatro linhas está aqui dito tudo o que queria dizer hoje (e de forma mais brilhante do que a que eu poderia ter escrito).

Retomando. Na semana passada quando aqui referi aquele pequeno episódio do fundamentalismo islâmico não sublinhei adequadamente que o que menos interessava era ser islâmico. O que visava era apenas o fundamentalismo. A expressão "Fazei o que Deus manda quer Ele queira quer não" visava precisamente o extremo egoísmo que caracteriza os fundamentalistas quando confundem inconscientemente o seu egoísmo e as suas frustrações pessoais com a vontade de Deus.
O fundamentalismo religioso ou laico, político ou económico, científico ou moral pertence apenas à categoria do Mal (ou, de forma mais prosaica, simples estupidez humana).
Porque me parece que o homem vive rodeado de abismos. Fundamentalismo, relativismo, egoísmo. Abismos que só se podem vencer através da oração e de um permanente exercício de auto-reflexão e de introspecção.
O único fundamentalismo admissível é o fundamentalismo do Amor. Porque este implica equilíbrio e sentido da proporcionalidade.
Implica atenção ao outro e a si próprio como forma de melhor servir o outro.
Implica bondade, pura bondade.
Implica humildade, muita humildade, humildade genuína, que não seja apenas uma capa hipócrita ador(n)adora do ego. Implica paciência e prudência.
Implica generosidade e muita introspecção. Implica temperança de pensamento.
E implica também um pouco menos de autoritarismo paternalista e de certezas implícitas, características de quem tem Deus na barriga, como são as que se manifestam no estilo final deste texto que acabei de escrever.

Timshel [TIMSHEL]

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Histórias para dormir a sesta (2)

(Continuação da semana passada)

4) dos hamsters
Retomo esta crónica com o azedume próprio do profeta que viu uma profecia sua ter a divulgação ultrapassada pela sua própria realização. Falo naturalmente da demissão do ex-Ministro das Finanças, cujo artigo no Público me tinha feito antever a sua retirada próxima. A mim e a mais umas 500.000 pessoas, mas agora isso já não interessa nada. Bem ao estilo deutero-Jeremíaco que agora me entusiasma, tinha já preparado um texto amargo chamado provisoriamente “serial-killing” em que reflectia sobre a elevadíssima taxa de mortalidade que neste pobre país tem sido apanágio da função. Também recordava as circunstâncias pungentes da saída de Sousa Franco, friamente sacrificado mais a Reforma Fiscal de Medina Carreira, dos cinzentíssimos derradeiros dias de Pina Moura no Terreiro do Paço, já contemplando o Monstro olhos nos olhos, recebendo a eito os sábios do regime para apresentar à pressa e sem qualquer esperança um já esquecido Plano de Redução da Despesa Pública, que o suavíssimo Guterres preferiu varrer para debaixo do tapete para assim manter a doce ilusão do irrisório défice de 1,1%, ilusão pela qual o seu amigo e meu irmão na fé católica, Oliveira Martins, aceitou sacrificar a sua reputação e credibilidade. Falava obviamente também na rispidíssima Manuela Ferreira Leite a quem outorgaram a nobre missão de salvar a Pátria do défice que a tolhia e tolhe, mas que também rapidamente se deixou cilindrar pelo rolo compressor do sistema político. Primeiro por facadas sibilinas do estilo “há vida para além do défice”, pela Sibila-Mor do Regime, o nosso Presidente Sampaio, e depois, com aquela frieza brutal de que só um ex-maoísta encartado é capaz, defenestrada sem cerimónia pelo actual detentor do record nacional de cargos internacionais, o “chernóbil” Durão Barroso. Uma triste história que vos tinha para contar mas não o vou fazer. Por puro ressentimento.
Assim sendo passo à profecia seguinte, que vinha aqui fazer hoje, a mais tenebrosa de todas. Já lá iremos. Antes disso convém recordar uns episódios da nossa gesta recente enquanto sociedade (será que o somos verdadeiramente?).
Começo pelos anos de chumbo de 1982-84 em que os estragos da confusão pós-25 de Abril (atenção que eu sou um democrata!) vieram dolorosamente ao de cima. Foram esses os anos em que os pricipais partidos do regime tiveram que se entender no Bloco Central, de memória tão injustiçada, e por falta de alternativas locais tiveram de deixar o FMI fazer um trabalhinho duro mas que tinha de ser feito. Era nessa altura Ministro Ernâni Lopes mas a meias com Teresa Ter Minassian, excelente senhora, ilustre representante do FMI e inflexível guardiã da aplicação das suas directivas. Foram tempos de austeridade, palavra hoje em desuso, mas em que se conseguiu evitar a bancarrota económica e o descalabro social. Muito deve o país a Mário Soares e Mota Pinto, chefes do PS e PSD, por terem deixado aquela dupla trabalhar enquanto arrostavam com a dura contestação nas ruas, o tal direito à indignação de que o pai da pátria veio a falar mais tarde.
Mas o facto é que a coisa resultou e por idos de 1985 os senhores do FMI fizeram as malas pois a nação tinha recuperado aquela credibilidade que, juntamente com o bom clima, há muito que era um dos seus poucos activos: a reputação de país de bem, respeitador dos seus compromissos, a quem se pode emprestar dinheiro.
Ora precisamente nessa altura, ajudado pelo epifenómeno PRD, aparece o fenómeno Cavaco Silva. Este homem hábil e ambicioso, com fortes semelhanças ao Fontes Pereira de Melo de há cento e tal anos, percebeu antes de toda a gente que, estando recuperada a credibilidade externa de Portugal, tendo sido ainda possível nessa altura tormentosa introduzir o país na CEE, era possível e necessário virar a agulha e dar um novo desígnio a Portugal, o do desenvolvimento, conceito mítico e mirífico para a sociedade de então que, agradecidamente, lhe entregou o seu destino.
Cavaco partiu dos seguintes pressupostos: a credibilidade externa recuperada, o novo estatuto de membro da CEE, permitiam de novo os necessários empréstimos no exterior, a entrada na CEE e os imensos fundos disponíveis para tornar possível a convergência deste país atrasado com a média europeia iam já começar a escoar. Também as privatizações, tornadas constitucionalmente possíveis iriam ser uma caudalosa fonte de receitas.
Deste confortável ponto de partida, o homem terá escolhido 3 campos onde investir a massa toda que se nos oferecia (ou gastá-la, como veio infelizmente a acontecer em grande parte):

  • Infraestruturas: autoestradas, pontes, vias férreas, ao melhor estilo fontista, telecomunicações também
  • Formação profissional
  • Investimento estrangeiro

E foi o que se fez, torrencialmente. Entretanto, escolheu-se manter uma política cambial restritiva e estabilisante, mantendo o escudo caro, aplanando assim o caminho para o euro e melhorando as condições do empréstimo externo mas reduzindo drástica e penso que irreversivelmente a competitividade externa da indústria portuguesa e por acréscimo as suas possibilidades de sobrevivência.
Ora, falemos então do que se gastou e como.
Quanto às infraestruturas, fez-se o que era absolutamente necessário num país em que se demorava 4 a 5 horas a fazer os 300 Km que separavam as duas principais cidades. É claro que todos os milhares de milhões disponibilizados para este fim injectou na economia um oxigénio que há muito lhe faltava, mas com tanta procura e oferta limitada, tenho para mim, que sou leigo no assunto, que os custos unitários de tanta obra em tanta frente foram maiores do que o deveriam ter sido. Sobretudo dado o secular laxismo do Estado português. Ao fim de tudo isso, ponho-me no Algarve em menos de duas horas sem parar sequer para os putos fazerem chichi, temos duas autoestradas paralelas entre Lisboa e Leiria e entre Aveiro e o Porto, mas o facto é que as mercadorias que importamos prodigamente continuam a percorrer penosamente o famigerado IP5. Enfim, malhas que o Estado tece...
Quanto à formação profissional ela era de facto imprescindível nesta sociedade tão desqualificada profissionalmente e tão atrasada culturalmente. Só que nem aqui o Cavaco todo-poderoso pôde fazer alguma coisa contra o atávico chico-espertismo nacional. Eu sei que isto é um assunto de que já não se fala muito e em relação ao qual poucos estão inocentes. Até eu, finalista que era do Técnico por alturas de 87, andei num curso já não sei de quê, coordenado por um professor meu, curso que me rendeu umas massitas jeitosas a mim e aos meus colegas e umas massas já boas aos respeitáveis formadores, todos eles assistentes da cadeira do prof. e uma grossa maquia ao dito professor. Recordo ainda com vergonha ter assinado umas listas de presenças que me faziam ter assistido a mais do dobro das aulas a que assisti de facto. Saí a meio do dito curso, por nojo e por ter entretanto arranjado emprego.
Exactamente, é do FSE, do Fundo Social Europeu, de que estou a falar, esse montão de dinheiro que foi distribuído sem eira nem beira, sem controle nem retorno, por formandos, formadores, formadores de formadores, coordenadores de formadores, por empresas de formação, por consultores de projectos de formação. Tanto carro, tanto monte alentejano, tanta obra em tanta casa, tantas férias nas Caraíbas, tanto dinheiro desperdiçado sem utilidade e sem préstimo! Houve por aí uns escândalos, uns inquéritos, uma prisão ou outra, até que a torneira se fecha definitivamente. E o país? Penso que ficou na mesma: mão-de-obra pouco qualificada, licenciados sem especializações específicas e práticas, e a educação, essa, cada vez pior.
E o investimento estrangeiro? Fez-se aí um bom trabalho: veio a Autoeuropa, a Grohe, a Lear, a Infineon, a Yasaki e muitas outras empresas que, a troco de muito generosas contrapartidas, vieram ajudar a baixar o desemprego para níveis residuais. Houve contudo alguns problemas. Um deles foi ter-se utilizado quase todos os fundos do PEDIP nestes projecto e não numa indústria genuinamente nacional. Recorde-me bem da estranheza que senti um dia ao ouvir o IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas Industriais dizer que os fundos disponíveis estavam todos cativados para projectos como a Autoeuropa, esse arquétipo da PME!..O outro problema foi de novo uma idiossincrasia do estado português. Muitos de vós não terão ideia do estranho que é uma entidade, especialmente se fôr estrangeira, a negociar com o Estado português. Não existe um interlocutor mais mole, mais passivo, mais inacreditavelmente burro do que um qualquer ilustre representante do Estado português sentado do outro lado da mesa a defender os interesses da Nação e a negociar as contrapartidas de uma qualquer concessão. Mesmo que assessorados por um qualquer dos grandes escritórios de advocacia da capital, dizem-me ser um espectáculo inolvidável e tocante a preocupação e empenho do dito Exmo. e Ilmo. representante em reduzir a exposição do investidor privado à eventualidade do risco do negócio o qual parece estar sempre destinado a ser assumido pelo Estado, paternal e atento. Atenção: este mal não apareceu com Cavaco! O paroxismo disto tudo ocorreu nos governos guterreanos, onde a lusa interpretação do project finance atingiu paroxismos nunca vistos em latitudes acima do Sahara. A dúvida estava e ainda está sempre aqui: será burrice, será outra coisa?
Mas o meu ponto é que todos estes investimentos estrangeiros, que injectaram também eles incontáveis milhões na nossa economia foram quase todos eles negociados à portuguesa: receberam a massa, investiram também eles um bocado, ficam cá enquanto lhes apetece e vão-se quando também lhes apetecer. Lá fora sei eu que não é assim. Na Irlanda os contratos de apoio estatal e comunitário são draconianos; em Espanha priveligiou-se a figura do parceiro espanhol, para que fique ele com o negócio se o coreano ou o alemão se quiser pirar.
Enfim, é triste. E penso que deve ter sido por tristeza e melancolia, ao ver o estrondoso fracasso da terapia por si prescrita, que o Prof. Cavaco amuou e foi embora.
Teria sido bom se não tivesse vindo a seguir a ele o amabilíssimo Guterres, homem de ideias mas sem determinação, como ouvi anteontem ao professor do regime. Guterres, bom católico, da corrente providencialista, não cuidou de perceber como isto estava. Viu apenas uma economia túrgida de dinheiro fresco, ávida de gastar e consumir. E confundindo crescimento com circulação de capital, ajudado ainda pelas baixíssimas taxas de juro proporcionadas pelo caminho para o euro e depois pelo próprio euro, aquele homem providencial e o seu governo, passou 4 anos a deitar gasolina para a fogueira das vaidades nacionais renascidas. Estava tudo no melhor dos mundos, consumia-se cada vez mais aquilo que era cada vez mais quase tudo importado, distribuía-se ainda chorumentos negócios aos privados, e caminhámos alegremente, cantando e rindo, para o momento do primeiro susto, altura em que o primeiro abrandamento da economia revelou ao nosso horrorizado primeiro-ministro que os pés da nação eram de barro e barro mal cozido, ainda por cima...Foi então que o Monstro, previsto e talvez criado por Cavaco Silva, apareceu de rompante, tenebroso e furibundo.
Vendo-o tão zangado e incontrolável, Guterres só não perdeu ali mesmo a sua vida política pelo feliz facto de se ter abstido de a arriscar (onde é que eu já li isto?). E pirou-se o homem, invocando o mítico Pântano, que subsiste até hoje cada vez mais negro e fedorento.
Tão negro e tão fedorento que desde então os partidos de poder parece que se esforçam de nele permanecer o menos tempo possível, atirando-o um ao outro, para que nele escalde as mãos. E assim tem sido. Uma porra, se me é permitido usar este termo neste espaço de elevação.

Depois deste triste desabafo, olhando para o desnorte do povo e a para a perfídia dos príncipes, olhando para a forte Babilónia, aqui ao lado, pronta a tragar-nos, vou fazer então a minha profecia para os tempos que aí vem. Não é profecia sobre as presidenciais, esse assunto inventado para nos distraír de cinco em cinco anos. Não é profecia sobre a Ota e o TGV, pois toda a gente sabe que nunca serão construídos, por absoluta impossibildade. Fala-se neles porque os nossos governantes continuam a pensar, recorrentemente, que o que faz falta é animar a malta. E, ingenuamente, continuam a pensar que esses grandes projectos animam alguém que não seja membro da AECCOPS. Não, a minha profecia é sobre assunto mais substancial e tormentoso. Mas os tempos são tão negros que prefiro adoptar um método com que Jeremias nunca sonhou: a profecia de escolha múltipla! Ora aqui vai, ponha lá então a cruzinha no quadrado que melhor lhe aprouver:

c FMI e capacetes azuis

c habla usted español?

Muito boas férias para todos. Não pensem muito nisto.

José [GUIA DOS PERPLEXOS]

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segunda-feira, julho 25

 

Olhares sobre a Igreja – A sexualidade

Como foi aqui referido na passada quarta feira pelo conterrâneo Carlos Cunha, o Padre Vítor Feytor Pinto, no passado dia 10 de Julho deu uma entrevista ao jornal Público, onde abordava vários temas, de entre eles, a sexualidade. Declarações, que causaram alguns incómodos, nalguns sectores da Igreja e que levaram o Pe Feytor Pinto, na edição do mesmo jornal, no passado dia 17, a corrigir algumas das afirmações que tinha feito. Fica-nos sempre a dúvida, se foi o jornalista que não interpretou correctamente as respostas, às suas perguntas, ou se foi o entrevistado que preferiu rever algumas das afirmações.
Como quase sempre acontece quando a Igreja fala sobre este assunto, levantam-se as mais variadas paixões. Pode-se dizer, que o discurso da Igreja sobre a sexualidade, é visto a maior parte das vezes completamente arredado do que é a realidade das pessoas e das suas vidas. Dizendo que a Igreja tem um discurso rígido e fechado.
Falar da sexualidade humana, tal como falar da vida, é sempre um enigma. A Teologia dá as suas respostas para ambas, mas respostas, que não são, nunca, certezas. No caso da sexualidade, a Igreja entende-a, e é esse também o meu entendimento, como tendo todo o seu sentido numa relação de amor. Mas mesmo este sentido, é questionado, e legitimamente, por quem vê nela outros sentidos.
Porque à pergunta: “o que é a sexualidade”? Temos muitas e variadas respostas. Paul Ricoeur, citado por Mateus Cardoso Peres, numa reflexão sobre a sexualidade, diz o seguinte:


Quando dois seres se abraçam, não sabem o que fazem; não sabem o que querem; não sabem o que procuram, não sabem o que encontram. Que significa o desejo que os atrai um para o outro? É o desejo do prazer? Sim, sem dúvida. Mas, pobre resposta; porque ao mesmo tempo pressentimos que o próprio prazer não tem significado por si mesmo: que é figurativo. Mas de quê? Temos consciência viva e obscura de que o sexo participa de uma rede de potências cujas harmonias cósmicas estão esquecidas mas não abolidas; que a vida é bem mais do que a vida; quero dizer que a vida é bem mais do que a luta contra a morte, do que o atrasar do desenlace fatal; que a vida é única, universal, toda em todos e que é neste mistério que a alegria sexual faz participar...”


Completo esta reflexão com um texto de Leonardo Boff, onde ele fala de várias perspectivas da sexualidade, vistas pela Igreja. Insere também, um estudo curioso de uma teóloga, onde podemos ver que nos dois mil anos de história da Igreja, já várias correntes de pensamento tiveram lugar. Daí podemos depreender, que nesta como noutras coisas, o nosso saber nunca está completo. Disto tudo, quero sublinhar, que a sexualidade humana fazendo parte do plano criador de Deus só pode ser vista com o olhar positivo, com que olhamos para toda a Criação.

“É comum dizer-se que a Igreja Católica possui fobia sexual e que trata temas da moral familiar e da sexualidade com excessivo rigor. Há certa razão nisso, pois a palavra “prazer” suscita nela preocupações e, em se tratando então de “prazer sexual”, suspeitas. Ela na verdade, educou mais para a renúncia do que para a alegre celebração da vida.

Entretanto, nem sempre foi assim. Dentro da mesma Igreja, há tradições e doutrinas que vêem no prazer e na sexualidade uma manifestação da criação boa de Deus, uma centelha do Divino e uma participação no ser mesmo de Deus. Esta linha se liga antes à tradição bíblica que vê com naturalidade e até com entusiasmo o amor entre um homem e uma mulher, com toda a sua carga erótica, como plasticamente o descreve o Cântico dos Cânticos, com seios, lábios, vulvas e beijos.

Mas esta linha não vingou na cristandade. Ao contrário, predominou a negativa por causa da influência poderosa que o génio de Santo Agostinho (354-430) exerceu sobre toda a Igreja Romana. Não cabe aqui identificar a base material e sócio-cultural que permitiu esta incorporação. Mas importa reconhecer o carácter fortemente negativo da sua visão, embora tenha sido, como jovem, muito activo sexualmente, a ponto de ter tido um filho, Deodato. Em seus solilóquios diz:”Quanto a mim, penso que as relações sexuais devem ser radicalmente evitadas. Estimo que nada avilta mais o espírito de um homem do que as carícias sensuais de uma mulher e as relações corporais que fazem parte do matrimónio”. Pode a Igreja assumir sobre o amor humano tal doutrina?

Mas não devemos absolutizar a posição rigorista da Igreja oficial. Ao lado dela sempre se fez presente também a outra positiva e corajosa. Com efeito, uma ideologia, por mais incisiva que seja, como a de Santo Agostinho, não tem força suficiente para recalcar o prazer sexual, já que este se enraíza no mistério da criação de Deus. Ele, aqui e acolá, queira a Igreja ou não, sempre se faz valer.
Para ilustrar a tradição positiva da sexualidade cabe citar aqui uma manifestação que perdurou na Igreja por mais de mil anos, conhecida pelo nome de “risus paschalis”, “riso pascal”. Ela significa a presença do prazer sexual no espaço do sagrado, na celebração da maior festa cristã, a da Páscoa. Trata-se do seguinte facto, estudado com grande erudição por uma teóloga italiana Maria Caterina Jacobelli (Il risus paschalis e il fondamento teologico del piacere sessuale, Brescia 2004): para ressaltar a explosão de alegria da Páscoa em contraposição à tristeza da Quaresma, o sacerdote na missa da manhã de Páscoa devia suscitar o riso do povo. E fazia-o por todos os meios, mas sobretudo recorrendo ao imaginário sexual. Contava piadas picantes, usava expressões eróticas e encenava gestos obscenos, dramatizando relações sexuais. E o povo ria que ria. Esse costume é encontrado já em 852 em Reims, na França, e se estendeu por todo o Norte da Europa, Itália e Espanha, até 1911 na Alemanha. O celebrante assumia a cultura dos fiéis na sua forma popular, plebéia e obscena. Para expressar a vida nova inaugurada pela Ressurreição, dizia esta tradição, nada melhor que apelar para a fonte de onde nasce a vida humana: a sexualidade com o prazer que a acompanha.
Podemos discutir o método impertinente, mas ele revela na Igreja uma outra postura, positiva e alegre, face à sexualidade.”


Maria da Conceição [JARDDIM DE LUZ]

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O segredo do Reino

Numa certa paróquia católica do Cosme Velho, no Rio de Janeiro, há um trabalho interessante da Pastoral da Juventude. Tomei conhecimento da sua existência através de um programa da TV Educativa. Os padres responsáveis realizam encontros regulares com os adolescentes e jovens da comunidade e, em cada um desses encontros, há uma tarefa secreta a ser executada. Algo nos moldes dos famosos Encontros de Jovens que acontecem nas Igrejas Protestantes, com a diferença de que - na paróquia do Cosme Velho - as tarefas voltam-se para a realidade concreta ao redor, como doação de sangue, visitas a orfanatos e asilos e distribuição de sopa para os mendigos nas ruas.
Por mais que me esforce, não consigo recordar o nome dos párocos, o endereço da Igreja e nem mesmo o programa em que foi veiculado o trabalho. Porém, uma breve entrevista com uma das adolescentes ainda está vívida em minha memória. Perguntada sobre o que sentia ao visitar um asilo, levando presentes e apresentando peças teatrais para os velhinhos, a menina respondeu: “Eu sinto que faço isso para Jesus, e quando acaricio um desses velhinhos é a Jesus que estou acariciando, e quando um deles dá um sorriso é Jesus quem está sorrindo”. Emudecida a voz com a força de um poema de Neruda, só pude calar-me numa prece interior: “Senhor, que eu seja como ela”.
A menina proclamou, de forma singela e sincera, a mensagem do Evangelho: o segredo do Reino é partilhar, e quem se doa ao outro está se doando a Cristo. O próprio Mestre ensinou isso como verdade escatológica ao narrar o Juízo (Mt 25.31-46). Enquanto os justos e os injustos perguntavam quando o Filho do Homem esteve nu, ou com fome e sede, ou preso, que necessitasse de sua assistência, o Rei respondia: “todas as vezes que fizestes isto a um destes pequeninos, a mim o fizestes”. O outro, o próximo, o que está diante de mim, é a expressão de Jesus Cristo.

Isto não deveria ser novidade para mim, herdeiro da tão propalada (e mal compreendida) tradição reformada. João Calvino tratava o pobre como o vicarius Dei, o substituto de Deus. É lógico que nenhum atributo pontifical passava pela cabeça do reformador de Genebra ao fazer tal comparação, mas, sim, a divina capacidade de se fazer presente no outro. Quando nos dirigimos ao próximo, fazemo-lo na direcção do próprio Cristo. Este princípio da identificação divina com o homem tem o seu ápice e clímax na Encarnação. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14) é a abertura de possibilidade de salvação para o homem, além de ser um golpe profundo nos advogados da alma em detrimento do corpo.
Quando o Evangelho do Reino nos convida a partilhar, está dirigindo o convite não só à alma humana, mas também (e de forma mais clara ainda) ao corpo. É o homem total, por completo, integral – no dizer do consenso dos evangélicos em Lausanne, 1974 – que se vê em comunhão com Cristo na Encarnação do Verbo. Reconhecer no outro a essência divina é ir em direção ao Cristo, que chora, ri, briga, acalma, nasce de Maria e morre sob o poder de Pôncio Pilatos. Não conceber isto é insistir no docetismo – heresia que grassou pelos campos da Igreja nos primeiros séculos de sua existência.
Para os docéticos o mundo caminhava muito bem, obrigado, em sua concepção dualista do universo. Este pensamento, originário da mentalidade grega, enxergava o mundo em duas esferas: a espiritual e a material. Tudo que tivesse a ver com o espírito (ou alma, como preferir), com o mundo das idéias, o topos uranos de Platão, era almejado. Já o relativo à matéria, ao corpo, a este miserável invólucro da sagrada alma deveria ser repelido. Por isso, para o docetismo, Cristo não poderia ter se tornado homem como nós, de carne e osso. Mas, louvado seja Deus, o Verbo se fez carne, e a exigência evangélica de doar-se ao outro implica em fazer o bem à alma e ao corpo do homem e da mulher.
Contudo, de uma forma ou de outra, o docetismo parece estar infiltrando-se novamente em nosso meio. Basta que se veja os tabus reinantes no tocante a tudo que se relaciona com o corpo. Somente os prazeres do espírito devem ser buscados. Em contrapartida, somente os prazeres do corpo são vistos como possibilidades de pecado. Há uma clara dificuldade de se tocar em assuntos que envolvam o corpo e a realidade material, como a sexualidade, por exemplo. Como relembra o teólogo Rubem Alves, a Igreja do período patrístico dá uma resposta direta à mentalidade docética no Credo Apostólico ao afirmar: “Creio na ressurreição do corpo”, sem fazer nenhuma menção à alma.

Se não bastam as dificuldades com relação ao corpo do indivíduo, tente discutir na sua Igreja assuntos sobre o corpo da sociedade. Tente falar sobre política, opções sócio-económicas viáveis ou acção social. Para piorar a situação, tente relacionar esses assuntos ao Evangelho do Reino de Jesus Cristo. Os modernos docéticos empunharão os seus vastíssimos tratados hermenêuticos, as suas eminentes teses exegéticas e suas eloquentes sumas dogmáticas com a finalidade de provar o seu erro (ou heresia, dependendo de sua relação com os doutores).
Mas o segredo do Reino – partilhar – leva-nos em direcção à expressão do Jesus Cristo da Bíblia, gente como a gente, que crescia tanto em estatura quanto em graça, que se manifestava tanto diante de Deus quanto dos homens (Lc 2.52), que era corpo e alma. Olhar para o próximo e nele vislumbrar o Cristo é entender a missão de proclamar um Evangelho total. Se pregamos a salvação para as almas de nosso bairro e permanecemos impassíveis às suas necessidades sociais e económicas, anunciamos um Cristo incompleto – da mesma forma que assim o fizeram alguns teóricos de uma Teologia da Libertação que somente visava o bem social, sem levar em conta a mística do espírito.
Precisamos democratizar o espaço de nossa Igreja por causa da missão de partilhar. Exercitemos em nós mesmos o dom da partilha. As formas práticas de se realizar este intento são muitas e devem ser discutidas em comunidade. Criar espaços para cursos e discussões, criar uma ligação com a associação de moradores, mobilizar os advogados, médicos, psicólogos e outros profissionais da Igreja no sentido de doarem algum tempo para o serviço do Senhor, organizar atividades de cunho assistencial, muito pode ser feito na caminhada em direção ao outro.
Romper com a supremacia docética da alma não é promover uma Igreja fria e materialista. Ao contrário, é encontrar a expressão de Cristo muito mais perto do que qualquer experiência mística poderia promover: ao nosso lado, no próximo, no outro. Partilhar o que temos com o outro é fazer coro junto ao pai Calvino, aos justos do sermão de Jesus e à menina da paróquia carioca: o amor ao próximo é a única expressão visível e possível do amor a Deus (Mt 22.34-40). Este é o segredo do Reino.

Christian Bitencourt [MIGALHAS AO VENTO]

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"Palavras Dadas", de Maria de Lurdes Pintasilgo

Nota: este texto foi publicado na passada quinta-feira no Enchamos Tudo de Futuros. Parece-me que o seu conteúdo merece o destaque de figurar na Terra da Alegria, sobretudo pela referência a essa grande mulher de fé que foi Maria de Lurdes Pintasilgo. A série "arqueologia de Deus", interrompida há umas semanas largas, volta daqui a umas semanas largas.

Fez há poucos dias um ano que faleceu Maria de Lurdes Pintasilgo. Assinalei a triste data, com um texto chamado «Mudar a Vida», que merece ser relido. Surge agora em edição dos Livros Horizonte e com chancela da Fundação Cuidar O Futuro o livro "Palavras Dadas". Trata-se de um conjunto de reflexões dirigidas a cada uma das 127 (!) personalidades que escreveram a Maria de Lurdes no livro "Mulher das Cidades Futuras" a ela dedicado por ocasião do seu septuagésimo aniversário. Um conjunto de reflexões, não de respostas, já que "resposta, resposta mesmo, não há". Como diz no prefácio, "todos os meus eus são interrogativos". A busca da verdade segue trilhos incertos; sábio é quem o reconhece: "o princípio da incerteza coexiste com a procura einsteiniana de uma grande verdade".
Ainda não li o livro, mas tive o privilégio de assistir ao lançamento desta edição póstuma com apresentação de Maria Irene Ramalho, Boaventura Sousa Santos e José Manuel Pureza, além da anfitriã Fátima Grácio, presidente da Fundação instituída por Pintasilgo. As três intervenções merecem registo, pelo que deixo a letargia dos últimos tempos e volto à escrita.
Logo na explicação do "porquê deste livro", Maria de Lurdes Pintasilgo começa por citar o poema de Carlos de Oliveira que inspira a expressão "mulher das cidades futuras":

Cantar
é empurrar o tempo ao encontro das cidades futuras
fique embora mais curta a nossa vida.


Foi precisamente com a música que José Pureza começou por comparar este livro; não com o canto, mas com o Jazz de John Coltrane, num dos seus solos endemoinhados, com vários tons e muitos improvisos, com mudanças súbitas de ritmo, com vocabulário diverso e sempre, sempre com genialidade e vistas largas. Aqueles solos que fazem o ouvinte dizer que o músico anda à procura de Deus. Aqueles livros que fazem o leitor dizer que a escritora anda à procura de Deus.
Já Maria Irene Ramalho destacou a poesia que transborda deste livro. Ele nasce dum movimento de agradecimento: "tenho uma dívida" é a frase de abertura. Desse movimento de gratidão dirigido a cada um dos participantes no livro anterior, a "Mulher das Cidades Futuras" faz nascer uma resposta pessoal. Uma resposta tão pessoal e única que é um gesto de afecto, um "aceno de bem-querer" que a levam à pergunta provocadora: "Será mesmo verdade que não há amor senão recíproco?". É assim que neste livro se resolve o paradoxo: "como fazer de um afecto uma tese?". Por isso poesia: a tese dos afectos! E também por isso pode dizer-se que se trata de um testamento espiritual de Maria de Lurdes Pintasilgo – um testamento espiritual de quem sempre soube que a espiritualidade só faz sentido quando é aliada à acção.
Destaco a reflexão dedicada a José Policarpo, bispo de Lisboa, também destaca por José Pureza. Nela, Maria de Lurdes fala da Igreja e mais propriamente da pertença à Igreja. E fala disso usando uma metáfora: as pessoas que passam ao lado da Notre Damme e que são tocadas pela imagem da catedral, cada uma a seu modo, com maior ou menor intensidade, com mais ou menos inquietação, com mais ou menos questionamento ou identificação. A partir dessa imagem, fala da pertença à Igreja como uma "fronteira indefinida e arriscada", uma fronteira definida apenas na consciência de cada um. Ou, para usar as palavras do teólogo Yves Congar, mais do que uma fronteira, um "limiar":
«Gente que passa junto ao limiar da igreja, uns pensando-se fora, outros pensando-se dentro. Mas também aqui a fronteira não existe. É um limiar e, só porque por ele passam (pelo facto de existirem naquela cidade, naquele planeta Terra, no mundo), só por isso o que é transcendente diz-lhes respeito. A diferença entre uns e outros não é redutível a "acreditar" ou "não acreditar".»
Encarar a pertença à Igreja desta forma, percebendo que os crentes não se distinguem das outras pessoas por nenhuma regra, preceito ou género de vida especial, foi um dos grandes contributos daquela geração a que chamaram "católicos progressistas". Maria de Lurdes Pintasilgo foi uma grande figura impulsionadora dessa forma fresca de estar na comunidade eclesial, a quem devemos muito. É a essa geração que devemos a grande mudança cultural que foi desamarrar a missão da Igreja do apoio ao regime. É a essa geração que devemos a mudança, em alguns sítios ainda pouco esclarecida, de entender que a Igreja não é de direita (nem de esquerda). E que não é – não pode ser – um entrave à mudança, ao progresso, e à liberdade – a "gloriosa liberdade dos filhos de Deus". Os conservistas não lhe perdoaram. E nem no momento da sua morte um senhor bispo soube estar presente!
Houve outros que não lhe perdoaram. Que não lhe perdoaram estar na política com desassombro e utopia. Estar na política e saber ultrapassar a barreira entre o povo e os burocratas. Ultrapassar a partidocracia. Estar no associativismo e na militância de base e simultaneamente embrenhar-se no "sistema". Houve quem não lhe perdoasse, dos dois lados. Eu sou novo e conheço pouco da história, mas a diferença abismal entre o reconhecimento internacional desta mulher (membro do Conselho Executivo da UNESCO, membro do Conselho Directivo da Universidade das Nações Unidas, Membro do Clube de Roma, só para citar os mais sonantes) e o desprezo a que a nossa triste pátria a votou são sinais evidentes. E da imprensa nem vale a pena falar. Boaventura Sousa Santos, na sua intervenção triste mas desassombrosa, fala de "silenciamento e marginalização". No texto dirigido ao sociólogo ela diz que encontrou como justificação o seu sexo e a sua vivência da condição feminina, imperdoável na nossa "sociedade patriarcal". Boaventura discora. O mal é mais geral: em Portugal só somos felizes se não nos entendermos uns aos outros. Maria de Lurdes Pintasilgo sempre procurou fazer pontes, entendimentos – dialogar. Ultrapassou a mediocridade geral. Não lhe perdoaram.
E para não acabar com coisas tristes, lembro o único momento em que privei com Maria de Lurdes Pintasilgo. Foi na apresentação do livro da Rita, que esteve a cargo de ambos, em Lisboa, numa sala apinhada e com o sistema de som avariado. Eu bem me esforcei por falar alto para aquela multidão. Depois começou ela. Serenamente. Não falou alto, mas não tenho qualquer dúvida que foi ouvida com toda a clareza, tal a força das suas palavras.
E termino com um excerto do prefácio que me parece particularmente significativo para evocar a "Mulher das Cidades Futuras":

«A mulher das cidades futuras percorre esse mundo como um estrado em que tem de afirmar a esperança, porque só assim a confiança no futuro se pode transmitir e permitir que todos os seres humanos vivam seguros. A mulher das cidades futuras cuida, mesmo "no deserto", que "alguma flor persista" (Ana Luísa Amaral).O agir da mulher das cidades futuras é, ao mesmo tempo, uma esperança e uma responsabilidade. Que melhor lema podemos encontrar para a nossa consciência e a nossa prática de cidadania?»

Zé Filipe [ENCHAMOS TUDO DE FUTUROS]

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quarta-feira, julho 20

 

Fazei o que Deus manda, quer Ele queira quer não...

O Speakers Corner em Londres é, para mim, um dos locais mais interessantes que conheço. A minha vontade seria levar um escadote comigo para arengar também um pouco às massas nesse local. Felizmente que com a blogosfera essa compulsão desapareceu um pouco, pois tenho podido sublimar esses ímpetos obcessivos com escadotes por meios menos trabalhosos de educar as massas.
Para quem não saiba, convém informar que o Speakers Corner é um local em Hyde Park em Londres em que qualquer um pode chegar lá e começar a botar faladura. Em cima de um banco, em cima de um escadote ou simplesmente em pé. E encontra-se lá quase sempre gente disposta a escutar (pelo menos durante algum tempo). Por vezes estabelecem-se debates calorosos entre os oradores e a assistência. Mas raramente se chega a vias de facto.
Deveria ser interessante fazer um trabalho histórico de investigação dos temas com mais oradores e com mais público. Alguém já deve ter feito esse trabalho mas desconheço-o. Particularmente curiosa é a evolução entre os temas predominantemente políticos de há umas dezenas de anos para a actual preponderância de temas religiosos.

Numa ocasião recente, após ter deambulado um pouco entre os vários grupos, apercebi-me de um orador quase sem público e dirige-me para ele. Tratava-se de um comunista da velha guarda. Como o tivesse visto a falar sozinho no meio daquela babel de proclamações em altos berros decidi aproximar-me timidamente e deixar-me a uma certa distância, a suficiente para o poder escutar. Ele contudo, mal vislumbrou que eu o estava a ouvir, veio na minha direcção e colocou-se à minha frente a arengar de olhos nos olhos. Deixei-me estar o tempo suficiente até que chegassem outros potenciais ouvintes e assim que estes chegaram debandei para outro grupo. O grupo que é a razão de ser principal deste post.
Tratava-se de fundamentalistas islâmicos e apelavam expressamente ao terror e a actos terroristas contra o Ocidente. Fiquei um pouco perplexo pois ignorava que a liberdade de expressão incluía aquilo que criminalmente se designa de "incitamento à prática de actos criminosos". Pensei: feliz a democracia que se permite este tipo de liberdade.
Entretanto tinha começado nesse grupo uma estranha discussão teológica sobre a possibilidade de Deus aceitar o terrorismo. Sobre a matança de inocentes, discutia-se a opinião de Deus sendo que uns eram contra e outros a favor pois nenhum ocidental seria inocente.
Nessa altura, dei comigo a pensar que estes últimos não estariam assim tão longe da verdade. Julgo que já Camus afirmava que não existiam nem inocentes nem culpados e as modernas correntes das ciências do comportamento tendem a confirmar essa hipótese.
O arengador passou depois à apologia dos atentados suicidas, detalhando com uma surpreendente abundância de pormenores materiais as recompensas que esperavam os "mártires" no paraíso.
E foi então, não posso garantir se ouvi ou se pensei, que na minha cabeça ecoou a frase que dá o título a este post: "Fazei o que Deus manda, quer Ele queira quer não..."

Timshel [TIMSHEL]

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Histórias para dormir a sesta (1)

Duas notas prévias, só para que me percebam.
A primeira é que eu sou um optimista. Embora não acredite na sorte, acredito na estatística e por isso tenho para mim que se formos tentando sempre, mantendo a grimpa razoavelmente levantada e a bolinha razoavelmente baixa, acabamos sempre por chegar aonde queremos. Ou razoavelmente perto. E se por acaso isso não acontecer, o facto de o termos tentado já nos transformou automaticamente em pessoas melhores o que, por si só, já melhora consideravelmente o sítio a que chegámos.
A segunda é que é tenho alma de profeta. Costumo prever coisas, adoro quando elas acontecem e arranjo facilmente explicações quando elas não acontecem. E como profeta que gostaria de ser, sinto-me mais próximo do modelo do profeta chato, assim do tipo Jeremias. O gozo que dá em dizer “bem me tinha parecido” ou melhor ainda: “eu bem tinha avisado”! E nunca digam que Jeremias era um pessimista pois ele levou uma vida inteira a pensar que conseguia convencer o resto da malta sobre o caminho que as coisas estavam a tomar. Não lhe ligaram nenhuma e foi o que se viu: o exílio, a destruição do Templo, humilhações, sacrilégios. Mas bem que ele tinha avisado.
E agora que tal como Jeremias me vou raspando, não para o Egipto mas para o Algarve em férias, vou deixar aqui umas previsões para animar a malta, previsões a curto, médio e longo prazo. Só aceito reclamações para as de longo prazo. Então aqui vai.

1) do petróleo:
Li há umas semanas, no Público, uma coisa porreira que passou despercebida: um quadro superior do Banco Mundial a dizer que verdadeiramente não há uma estimativa correcta das reservas de petróleo ainda existentes. Até há coisa de 20 anos a OPEP mais as petrolíferas mantinham uma análise permanente e credível mas que, por qualquer razão, deixou de ser feita. Assim sendo as estimativas actuais apresentam-se completamente desactualizadas e comparando os consumos das últimas duas décadas com as jazidas descobertas e registadas, o dito senhor afirma sem rebuço, que os números apresentados como reservas mundiais se encontram inflacionadíssimos! Contudo esta situação desagradável tem sido pouco falada para não agravar ainda mais as tensões de subida dos preços do crude, que se encontram já altíssimos. Ainda segundo este senhor, a forte aceleração do consumo chinês acabará por fazer despoletar esta realidade dentro de muito poucos anos, altura em que os preços atingirão níveis estratosféricos.
Não sei se tem reparado que os chineses, cujas preocupações humanitárias para com terceiros não são decididamente um traço dominante do seu quadro mental, esses chineses andam a apoiar fortemente a África, com ajuda sobretudo económica e técnica. O facto é que em África se situam grande parte das reservas ainda inexploradas e tenho para mim que os chineses que pensam sempre a longo prazo, andam já a tratar das suas comprazinhas para os próximos 20-30 anos. Os americanos já se sabe o que tem andado a fazer. Os europeus, esses, veem mais longe, já formaram uma sociedade pan-européia de capitais mistos, públicos e privados, que irá estudar, desenvolver e explorar a fusão a frio para nos aquecer a todos. Não se sabe muito mais excepto que o local já está escolhido e é em França. Parece-me bem.

2) do Islão:
Já sei que não parece bem dar este título a um texto em que vou falar do terrorismo islâmico que, como se vê, veio para ficar. E realmente o Islão, enquanto religião e tradição cultural, vale infinitamente mais do que preversa concepção que dele tem esses fundamentalistas que querem rebentar-se junto com isto tudo que é nosso. É também injusto e abusivo dizer que todos os muçulmanos apoiam o fundamentalismo radical e terrorista. No entanto, bom é que se vá percebendo que todas estas iniciativas jihadistas contra o Ocidente encontram um bom acolhimento em parte muito apreciável da sociedade islâmica espalhado por todo o Mundo. Tenho para mim que o problema não é do Islão em si mesmo nem da pobreza nem da exploração ocidental nem da arrogante existência de Israel nem da guerra do Iraque, uma das mais estúpidas iniciativas de que tenho memória. Quando muito, tudo isso são factores que ajudam pois, quanto a mim que só sei o que li, o problema principal está na própria sociedade islâmica. Esta, nos sécs. XIII e XIV, ainda sob o choque das cruzadas que foram para eles como que uma verdadeira violação, enquistou-se numa visão pessimista e retrógada do mundo. Foi quando acabou a espantosa ciência islâmica, legítima herdeira da ciência grega. Foi quando o pensamento especulativo foi totalmente banido da teologia islâmica que se tornou profundamente legislativa e normativa. Foi quando as relações sociais passaram a viver sob o crivo estrito da Sunna. Ou seja o Islão, que fora uma das mais brilhantes civilizações de todos os tempos, tornou-se numa sociedade fechada, retrógada, caturra. Uma sociedade que enviou para uma total irrelevância a metade feminina da sua população, facto que deixou consequências terríveis ainda hoje sentidas. E enquanto o Ocidente se desenvolvia intelectual e materialmente, se secularizava e alterava profundamente a sua organização social, o Islão ficou a assistir a isto do remanso da kashbah, irritado e ressentido. Durante uns tempos ainda teve o gozo de ver os poderosos califas otomanos a porem a Europa em sentido mas, inevitavelmente veio Lepanto e outras catástrofes, que fizeram o Islão confrontar-se ainda mais com a sua fraqueza perante o Ocidente cristão, antigo viveiro de cavaleiros brutos e ignorantes.
Assim sendo, os últimos 4 ou 5 séculos tem sido um período de contínua acumulação dum enorme ressentimento do Islão contra os Europeus, agravado aliás pelas patifarias que nós lhes íamos fazendo. Era um ressentimento agravado ainda pelo sentimento da própria inferioridade, pela sensação de nada haver a fazer. O célebre fatalismo muçulmano ajudou a mantê-los quietos mas em nada reduziu as camadas de ressentimento que se foram acumulando no ethos islâmico.
E eis que um dia, não se sabe bem quando, esse fatalismo mudou. As revoltas do Mahdi no Egipto e no Sudão no séc. XIX, o aparecimento da Fraternidade Muçulmana em inícios de XX, foram os primeiros sinais de que as coisas iriam mudar mais tarde ou mais cedo. E hoje vemos tão bem como mudaram! Hoje temos a Al-Qaeda que mais do que um movimento é um conceito, um programa. Hoje espantamo-nos com a facilidade com que jovens muçulmanos pacatos, sérios, bem integrados se transformam em bombistas suicidas após umas prédicas mais inflamadas nas mesquitas, umas sessões de doutrinação por algum sheik aureolado por passados feitos bélicos algures no Afeganistão e finalmente um estágio num campo qualquer do Paquistão. A razão é tragicamente simples: alguém despertou neles o tremendo ressentimento que foi passando de geração em geração e alguém varreu da mente deles o velho fatalismo, brandindo o exemplo de jihadistas que alcançaram já o paraíso.
Há ainda uma outra coisa, segundo um amigo meu, um inglês very british que anda muito próximo da suave corrente sufi do Islão, há ainda uma coisa que faz com que um jovem homem muçulmano olhe tão facilmente com tanto ódio para a sociedade ocidental em que habita: é o problema da condição feminina. Desde que as correntes estritas do Islão alcançaram predominância, a “guerra dos sexos” que nos é tão familiar, foi completamente arredada do Islão, para supremo conforto e descanso do pessoal masculino. É também por isso que a sociedade ocidental, com o seu igualitarismo sexual, é vista por eles como uma tremenda ameaça a uma ordem moral que pensam ser imposta por Deus mas que, sobretudo, lhes convém imensamente. Esse meu amigo contou-me que todos os amigos muçulmanos dele que deram em fundamentalistas, isso aconteceu-lhes após se casarem! E esta? Lembram-se do assassinato de Théo van Gogh, não se lembram?
Por isso, meus caros, penso que estamos metidos numa alhada e que isto vai aquecer. Estes terroristas não querem simplesmente que a gente saia do Iraque e do Afeganistão. Nem nos querem sequer converter. Nem que a gente lhes compre os tapetes deles. Eles querem mesmo é o nosso sangue, sangue para remissão das humilhações a que o Islão se deixou sujeitar...

3) dos tigres
Penso que os meus amigos terão certamente reparado que a Europa vai ficando um pouco parecida com o parque industrial da antiga CUF, ali para os lados do Barreiro. Quem viu aquilo há 20 anos e vê aquilo hoje! Fábricas inteiras desactivadas, demolidas, terraplanadas e substituídas por assépticos parques de pavilhões ditos industriais com armazéns de quinquilharia, muita dela vinda da China! Ou então fábricas apodrecidas a funcionar ainda, num último estertor.
Como é evidente este arranque retórico é absolutamente exagerado mas verdade seja dita que a Europa no seu todo, enquanto potência económica global tem um futuro extremamente duvidoso. Para mim, leigo que sou, aguentar-se-ão bem a Irlanda, toda a Escandinávia, a Grécia (sim, a Grécia!) e pouco mais. A Inglaterra e Espanha parecem prosperar insolentement mas tem pés de barro, sobretudo a Espanha. Já a França, Alemanha, Itália, esses já não sabem como resolver os problemas que reconhecem ter, quanto mais aqueles que não reconhecem. De Portugal nem vale a pena falar, pelo menos por agora.
É que para mim, o capitalismo, essa ave migratória, já começou a voar em força para outras paragens, de mão-de-obra boa, barata e quase infinita. Uma mão-de-obra que o capitalismo irá tornar gradualmente mais próspera, muito devagarinho, de modo a que quando a Europa tiver definitivamente secado, já esteja plenamente aberto um mercado de quase 3 biliões de pessoas. Estou a falar, claro está, da Ásia e sobretudo da Índia e da China. China que está rapidamente a tornar na fábrica de todo o mundo e Índia para onde se está a deslocalizar muitas das actividades de maior valor acrescentado da economia global: software, inteligência artificial, modelos matemáticos de gestão, tudo coisas que assentam como uma luva ao raciocínio de um povo, de elevadíssima literacia e numeracia, que desde há milénios desbrava galhardamente as profundíssimas abstrações da metafísica hinduísta e que está habituadíssimo a cumprir escrupulosamente o seu dharma para assim melhorar seu karma.
Ainda aí tudo preocupado com os chineses mas serão os indianos que farão a mais séria concorrência à Europa, a concorrência naquilo que é mais precioso: a inovação intelectual, científica e tecnológica.
Já os americanos, esses, não consigo ver tão claramente o seu futuro mas facto é que eles conseguem ainda ser um enorme mercado auto-sustentável e que continua a atraír fundos e cérebros de todo o mundo. E como única super-potência militar, tecnologicamente a anos-luz à frente de todos os demais, vão-se preparando para ter uma forte palavra a dizer, nem que seja à cacetada.
Quanto à nossa Europa, se entretanto não nos tornarmos em Dar-al-Islam, não espero mais do que um empobrecimento progressivo e inevitável. Como sou um tipo frugal, penso que estou preparado. Bom é que nos preparemos todos.

E vou interromper-me por agora antes que me comecem a apedrejar, que é o destino usual dos profetas. E também porque, relendo o que escrevi acima, noto um insuportável tom petulante que só sei definir como sendo parecido com o do Nuno Rogeiro. Safa! Vamos mas é a parar e já! Mas para a semana continuo.

José [GUIA DOS PERPLEXOS]

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A primeira pedra

«Jesus foi para o Monte das Oliveiras. Pela manhã cedo voltou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, que, sentando-se, os ensinava. Os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério. Pondo-a no meio, disseram-lhe: "Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio acto, em adultério. Na Lei Moisés nos mandou apedrejar tais mulheres. Tu, pois, que dizes?"» (João, 8:1-5).

Um site na Internet, denominado PensaBEM, divulgou uma carta em que denunciava as terríveis declarações do padre Vítor Feytor Pinto ao PÚBLICO, no passado dia 10 de Julho, a propósito do aborto e do preservativo. Na entrevista, o responsável da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde e pároco do Campo Grande, em Lisboa, admitia a utilização do preservativo em casos limite, se estivesse em causa o preceito "não matarás", ou seja, se, face a uma relação sexual em curso, o preservativo fosse o único meio para impedir a transmissão de um virus, como o da sida: «quando o que está em questão é o não matar, e a única forma de não matar é o uso de um profilático, ele pode justificar-se».
Mais. O padre Feytor Pinto admitia ainda, em relação ao aborto, que, em casos extremos - como a violação -, se a pessoa «não encontra uma alternativa», deve ser ajudada «ao máximo para que não destrua uma vida». «Mas, se a destruir, compreendemos que o conflito interior foi de tal natureza que não encontrou outra saída. Não vamos dizer que esta pessoa é uma criminosa».
Os internautas anónimos do PensaBEM ficaram «pelo menos, muito perplexos» com estas palavras. Numa carta, assinada pela redacção do site, confessam que é «com muita pena» que apresentam as suas queixinhas do padre Feytor Pinto, mas que, tendo em conta o «grande relevo de que goza» o pároco do Campo Grande junto da opinião pública, «é evidente que as afirmações controversas podem suscitar confusão em muitas consciências, já bastante confusas, ou até encaminhá-las por sendas gravemente erradas». Assim, concluem que será «oportuno informar deste assunto as autoridades vaticanas competentes». A quem concorde com a iniciativa, davam a conhecer os endereços electrónicos e de correio da Congregação para a Doutrina da Fé, do Conselho Pontifício para a Família e do arcebispo Elio Sgreccia, presidente da Academia Pontifícia para a Vida, não fossem os candidatos a bufos e delatores endereçarem erradamente as suas denúncias.

Não se sabe se os responsáveis do site também fizeram seguir as suas acusações para o Vaticano. Na verdade, não se sabe nada sobre eles. No seu site, na secção intitulada «quem somos», não dizem quem são. Não há nomes. São anónimos, portanto. Apenas se diz que são «jovens, homens e mulheres» e que se propõem «apresentar uma documentação contracorrente, capaz de abalar muitos preconceitos e falsas convicções que a cultura dominante quer semear nas consciências». A coberto da corajosa capa do anonimato, denunciam terceiros que se apresentam de cara descoberta a proferir declarações públicas. Parece-me um bom ponto de partida para quem «não quer gerar polémicas, mas sim ser instrumentos da Verdade que liberta a liberdade de cada homem». Liberdade, sim, desde que a ela não corresponda a responsabilidade do que se faz.
Com uma esmagadora modéstia, autoproclamam-se humildemente como pensaBEM. Não apenas pensam e sabem que pensam (o que, por si, revela um valor inestimável neste mundo acéfalo), como o fazem bem. E sabem que pensam bem. Ao invés da maioria, que não pensa; ao contrário da minoria que pensa, mas mal; estes católicos pensam bem. E, uma vez que pensam - e pensam bem -, pensam sobre tudo: o Harry Potter, o neo-darwinismo, a família, os malefícios para a saúde da homossexualidade, os escapulários, os wicca, a família, a maçonaria, Deus, a Igreja, e - claro - os preservativos e o aborto. Muito aborto.

Isto seria positivo se o nível de informação e reflexão fosse «libertador da liberdade de cada homem». Mas não é. Há um lado verdadeiramente fundamentalista que perpassa no site PensaBEM. A preocupação é de abarcar toda a realidade e dar resposta a todas as questões que se (auto)colocam, com uma segurança assustadora (vejam-se os dados "científicos" do texto Estudos confirmam: prática homossexual abrevia a vida, um dos raros casos que que a "ciência" é chamada a testemunhar), e procurando sempre uma confirmação canónica para o que, as mais das vezes, não passa de opinião ou reflexão lateral face a temas centrais e estruturantes da Doutrina. Mais do que numa norma regulamentar do Direito Canónico ou do Catecismo, o PensaBEM almeja transformar qualquer simples questão prática num dogma de fé. Numa orientação para a vida, como se buscasse (à semelhança dos nossos irmãos fundamentalistas islâmicos) uma resposta totalitária para o mistério da Criação e uma solução para os desígnios de Deus.
Neste contexto, o aborto e o preservativo são menos importantes que a vida e a saúde, conceitos abstractos, ricos e demasiados fugazes à regulamentação exaustiva. Há é normas a cumprir e, portanto, importa denunciar e punir os infractores das normas, para que se mantenha a ordem que se imagina e dá conforto. Quem me conhece sabe bem qual a minha posição sobre o aborto e o seu enquadramento legal e quanto à posição da Igreja sobre o preservativo como instrumento de combate à propagação da sida. Em ambos os casos, parece-me que estou ao lado dos pensadores anónimos e, portanto, livre deste ímpeto persecutório. E mesmo quanto ao uso do preservativo como meio de regulação da natalidade, comungo com eles de semelhante sentimento: não gosto particularmente. Há métodos bem melhores.

PS: Reparo agora que talvez tenha estado a interpretar mal o nome do site. PensaBEM não advém de uma autoanálise dos seus criadores. É uma ordem para todos nós.

Carlos Cunha [A QUINTA COLUNA]

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segunda-feira, julho 18

 

Possível futuro do mundo e lições da história

Realizou-se no dias 6 a 8 do corrente mês, em Gleneagles, Escócia, mais um encontro dos oito países mais industrializados do mundo- Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Japão, Canadá, e a Rússia. Encontro sempre muito mediatizado, sempre acompanhado pelas inevitáveis manifestações das várias ONG'S. Este ano com a particularidade de ser acompanhado, com os chamados concertos - Live 8. A agenda destes encontros, que se realizam desde 1975, é programar algumas medidas de combate à pobreza no mundo, sobretudo no continente Africano, e melhorar as condições climatérias, alteradas pela excessiva poluição industrial.

O encontro começou logo, com o presidente norte-americano, George W. Bush, a declarar, que qualquer eventual apoio e combate à pobreza, ou a um acordo global para debelar as alterações climatérias causadas pela poluição, estava condicionado pela defesa dos “interesses dos Estados Unidos”, que estão “primeiro” (Fonte; Público).
O encontro terminou com algumas medidas, que pecam pela pouca ousadia, de quererem modificar de facto, as questões que estavam em agenda. Fica-nos sempre a sensação de que se podia “ir mais longe”. Se os países mais ricos decidissem abdicar de um pouco da sua riqueza, de alguns bens, tantas vezes supérfluos, e resolvessem assumir como sua responsabilidade, que é, a melhoria das condições de vida de tantos povos que vivem no limiar da pobreza. Mas, como farão eles isso, se dentro deles próprios as assimetrias, entre os vários grupos sociais, são por demais evidentes?

Trago para completar esta minha reflexão, um texto de Marcelo Barros, editado na agência Adital, onde ele coloca em evidência, que as melhorias das condições de vida, deste planeta, têm que ser uma tarefa comum, sob pena de empenharmos o futuro das próximas gerações.


“As notícias internacionais mostram, mais uma vez, protestos reacções indignadas e até violência de grande parte da sociedade civil ao encontro e projecto dos governantes mais ricos do mundo reunidos no chamado G8. Nenhum terrorismo se justifica, mas enquanto governos como o norte-americano, pretenderem dominar o mundo com técnicas e métodos de terrorismo de Estado, não conseguiremos ver-nos livres do terrorismo de grupos fanáticos que se pretendem a favor dos povos oprimidos, como o ocorrido em Londres.

Como sempre podemos sonhar, convido-vos a imaginarmos que a sabedoria vencerá a insensatez, o amor será maior que o egoísmo e os métodos de não violência prevalecerão. A humanidade conseguirá reverter este tipo de progresso imposto pelo modelo de desenvolvimento predatório que sacrifica tudo ao deus-mercado, eliminará a indústria armamentista e todos os tipos de terrores, antes que estes eliminem a vida na Terra.

Quem lê estas linhas, não pense que acredito em uma linearidade da evolução histórica. Menos ainda que exista um modelo de cultura mais avançado do que outros. ...
...Entretanto todos reconhecem o planeta Terra como casa comum de todos os humanos, sem barreiras de circulação, nem discriminação racial, social ou económica.

Encontros como este dos governantes mais ricos do mundo me fazem pensar que uma das tarefas mais difíceis para os historiadores do futuro será explicar aos seus contemporâneos que, neste Julho de 2005, representantes dos oito países mais ricos do planeta se reuniram para garantir que o sistema económico então dominante na terra não mudasse. De acordo com o jornal espanhol El Mundo (03/07/2005, pag. 50), neste momento da história:

•70 famílias no mundo possuem renda superior à de um bilhão e 455 milhões de pessoas.
•Uma pesquisa de opinião pública acaba de revelar que a maioria dos norte-americanos elegeu Ronald Reagan, o norte-americano mais notável do século XX, em detrimento a outros, por exemplo; Dr Martin-Luther King, que doou a sua vida pela unidade entre raças e pela justiça entre seres humanos.
•Em apenas meio dia de guerra no Iraque, o exército norte-americano gastou o correspondente ao financiamento anual de todo o programa das Nações Unidas para erradicar a Aids e a malária dos países mais pobres.
•A Onu publicou que 13 milhões de dólares bastariam para eliminar a fome no mundo. Só os Estados Unidos gastam 17 milhões de dólares em alimentos para cães e gatos.
•A Europa subvenciona cada vaca europeia com 913 dólares ano, enquanto aceita com dificuldades aprovar um subsídio anual de oito dólares de ajuda para cada africano.

Estes governos milionários declararam perdoar a dívida dos países mais pobres da África, mas, de facto, a tal amnistia é apenas de 16% dos 296 milhões da dívida africana.
Desde 1980, humanistas propõem a chamada taxa Tobin: Um imposto de 0,5% a ser cobrado em toda a transação financeira. Esta pequena taxa garantiria que, em poucos anos, a ONU contasse com um bilhão e meio de dólares para resolver a pobreza no mundo. Os países ricos, liderados pelo governo norte-americano, se opõem e a taxa nunca é aprovada.

Talvez, as pessoas, que, no futuro, estudem esta realidade social se perguntem como a humanidade pode libertar-se desta barbárie e, na diversidade das culturas, ascender a uma civilização de solidariedade e de paz. Espero que se possa responder que, como sempre ocorreu na história, não são os ricos e poderosos que libertam os pobres. A libertação das escravidões, a superação do racismo, o fim das discriminações sempre foram conquistadas pelas próprias vítimas. Mesmo se é importante contar com o apoio dos intelectuais e todos os aliados que os movimentos de libertação podem somar.”

Maria da Conceição (
JARDIM DE LUZ)

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quarta-feira, julho 13

 

Os limites do homem (5): A certeza fundamental e axiomática: é a de que nos devemos comportar como se Deus existisse.

(as partes entre aspas e em bold do texto que se segue são palavras do Cardeal Ratzinger - este post, tal como alguns posts anteriores, é baseado nessas palavras e é o último post desta série de seis posts sobre as palavras que o Cardeal Ratzinger proferiu em Abril de 2005, pouco tempo antes de se tornar o Papa Bento XVI)

O texto da semana passada terminava com a seguinte frase de Ratzinger: "Somente a razão criadora, e que se manifestou como amor no Deus crucificado, pode verdadeiramente mostrar-nos o caminho."

O amor é diálogo e o diálogo é amor. E, convém repeti-lo nestes tempos conturbados, nenhum ser humano é excluído do amor e do diálogo. Não é por acaso que os cristãos se opõem à pena de morte. Esta oposição à pena de morte é, tão só, mais uma peça natural do puzzle lógico na qual estão também o caracter sagrado da vida humana e o amor enquanto mandamento único do cristianismo.

Não é possível dialogar com um morto.

"No diálogo tão necessário entre laicos e católicos, nós cristãos devemos estar muito atentos a permanecer fiéis a esta linha de fundo: ou seja, a viver uma fé que provém do logos, da razão criadora e que está por isso também aberta a tudo aquilo que é verdadeiramente racional.

Mas aqui queria, na qualidade de crente, fazer uma proposta aos laicos.

Na época do iluminismo, procurou-se entender e definir as normas morais essenciais, dizendo que elas seriam válidas “etsi Deus non daretur”, mesmo que Deus não existisse.

Na contraposição entre as várias confissões e também na incumbente crise da imagem de Deus, tentou-se manter fora das contradições os valores essenciais da moral e encontrar para estes uma evidência que os tornasse independentes das múltiplas divisões e incertezas das várias filosofias e confissões. Foi assim que se procurou assegurar as bases da convivência e, em geral, da humanidade. Naquela época, isto pareceu possível, uma vez que as grandes convicções de fundo criadas pelo cristianismo resistiam em grande parte e pareciam inegáveis. Mas já não é assim. A procura de uma tal certeza tranquilizadora que pudesse permanecer incontestável, para além de todas as diferenças, fracassou.

Nem sequer o esforço verdadeiramente grandioso de Kant foi capaz de criar a necessária certeza partilhada. Kant tinha negado que Deus podia ser conhecido no âmbito da razão pura, mas ao mesmo tempo, tinha representado Deus, a liberdade e a imortalidade como postulados da razão prática, sem a qual, coerentemente, para ele não era possível qualquer agir moral.
A situação hodierna do mundo não nos faz, talvez, pensar novamente que ele pode ter razão?

Por outras palavras: a tentativa, levada ao extremo, de plasmar as coisas humanas sem qualquer necessidade de Deus, conduz-nos cada vez mais à beira do abismo, a pôr totalmente de parte o homem.

Devemos então inverter o axioma dos iluministas e dizer: mesmo quem não consegue encontrar o caminho para aceitar Deus, deve de qualquer maneira, viver e orientar a sua vida “veluti si Deus daretur”, como se Deus existisse. Este é o conselho que já Pascal dava aos amigos não-crentes; e é o conselho que queremos dar, também hoje, aos nossos amigos que não crêem.

Assim, ninguém fica limitado na sua liberdade, mas todas as nossas coisas encontram um apoio e um critério do qual precisam urgentemente."


A nossa Fé implica que somos todos pecadores. O Bem e o Mal só existem enquanto valores que se manifestam na realidade. Por isso amamos todos os seres humanos independentemente dos pecados que eles cometam, tenham cometido ou venham a cometer. A prevenção e a repressão de comportamentos criminosos competem à polícia. A guerra ideológica e política contra o mal, no que a nós nos diz respeito, tem um único instrumento: o nosso comportamento individual e social baseado no amor.

Nas palavras de Frei Isidro Lamelas, Superior Provincial dos Franciscanos, "como discípulos de Jesus Cristo continuaremos a lutar preferindo a caridade ao direito, a misericórdia à moral, a comunhão à excomunhão."

É esta a nossa Fé.

"Aquilo de que mais precisamos neste momento da história é de homens que, através de uma fé iluminada e vivida, tornem Deus credível neste mundo.
O testemunho negativo de cristãos que falavam de Deus mas que viviam contra Ele, obscureceu a imagem de Deus e abriu a porta à incredulidade.
Precisamos de homens que mantenham o olhar fixo em Deus, aprendendo a partir dali a verdadeira humanidade."


Timshel [TIMSHEL]

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segunda-feira, julho 11

 

Um olhar do outro lado do Atlântico – Europa unida: o sonho acabou?

Hoje, trago um olhar do outro lado do Atlântico, é de Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga brasileira.

O tema foge um pouco ao que me propus trazer para a Terra da Alegria, mas pela sua relevância, e pelos trágicos acontecimentos do dia 7 de Julho em Londres, achei oportuno trazer aqui a visão de alguém que estando de fora, vê de forma criteriosa o andamento deste velho continente.

Para além de sabermos se o texto da constituição europeia é o mais adequado, texto que desde o início, foi contestado até pela própria Igreja Católica, o que sobressai dos resultados dos vários referendos é que esta união que pretendemos está muito fragilizada. Estando fragilizada, não serve aos seus próprios interesses, nem aos que lhe são exteriores. Não tenhamos ilusões, a globalização é um processo em marcha, só com objectivos bem definidos, com alianças bem estruturadas e cimentadas, podemos resolver os problemas que a mesma globalização nos traz.



“Primeiro foi a França, que com todo o seu peso no conjunto da Europa, disse “não”. Depois foi a Holanda, convicta e com toda a sua tradição. De nada serviu que a Espanha houvesse dito ”sim” sobre a sua constituição. O episódio que vive o velho continente nos diz algo importante sobre a nossa dificuldade de perseguir sonhos e utopias intrinsecamente ligados à nossa dificuldade de conviver com as diferenças recíprocas.

A Europa é um conjunto nada homogéneo em termos de cultura, idioma, religião, potencialidade financeira etc. Talvez nenhum continente tenha uma tal variedade em seu tecido. As duas Américas, a Latina e a do Norte, têm uma certa homogeneidade idiomática e cultural, cada uma provinda de uma raiz, embora o “melting pot” no norte e a imigração variada no sul quebrem algo dessa homogeneidade. No entanto, ela existe, assim como a da Ásia, que é uma homogeneidade de origem; e a da África, que é de raça.

Na Europa, a homogeneidade e a igualdade são escassas, para não dizer ausentes. Cada país é um mundo à parte e até há pouco tempo funcionava mesmo como um universo à parte. Com a sua língua, sua cultura, sua particularidade. O sonho de unir a Europa resultou em uma moeda forte, que superou mesmo o todo poderoso dólar e que dá o tom no mercado financeiro internacional. Também esmaeceram as fronteiras existentes entre os vários países, fazendo com que o trânsito entre uns e outros fosse mais fluido e livre. Ao turista que se aventura pela velha e sempre fascinante Europa, agora é dada a possibilidade de ir e vir entre as suas belezas e riquezas, sentindo-se numa grande casa onde as paisagens naturais e culturais mudam sem a barreira de fronteiras, passaportes, alfândegas.

E eis que o “não” da intolerância se levanta como uma interdição a essa utopia e esse sonho. Ainda não será desta vez que a Europa terá uma constituição única. E o mais triste é que o factor que gera isso é mais que nada económico e financeiro. O medo de que trabalhadores dos países do Leste Europeu venham ainda em maior número para a rica e influente Europa ocidental, ocupando as vagas laborais dos jovens europeus ocidentais e onerando a sua sociedade com o peso da sua escassez ávida de oportunidades, parece ter sido o factor determinante que fez com que o “não” fosse dito em vez do “sim”. O “sim” que abriria generosamente as portas do velho continente para ser uma só comunidade.

Dizem as ciências sociais que o homem é um animal gregário, social. E a filosofia, a teologia, também dizem que o ser humano é um ser relacional, que só existe e se autocompreende a partir da relação. Só o outro o diferente, pode nos dizer quem somos e ajudar-nos a sermos nós mesmos. Grandes filósosfos europeus, justamente, como Emmanuel Levinas e Paul Ricoeur, trabalharam belamente e a fundo esta questão da alteridade. E nos disseram que a alteridade e a diferença são fundamentais em nossas vidas e existências. No entanto, ao que parece, a Europa está disposta a abrir as portas à alteridade desde que não afecte a sua economia, sua abundância, a riqueza em que se encontra mergulhada.

Pobre Europa, já tão machucada por guerras e tempos de desolação e penúria profunda. Pobre Europa, que apesar de tudo o que passou e sofreu, ainda assim parece não haver aprendido que só a solidariedade e a disponibilidade de acolhimento do outro, do diferente, ainda que signifique mais partilha e menos abundância em nossas vidas, pode construir e levar-nos a algum caminho fecundo de abertura e vida em plenitude.

Diante da séria ameaça ao sonho da Europa unida, esperemos que ainda seja tempo. Esperemos que este continente, para o qual o mundo inteiro olha como uma alternativa de modelo sócio-económico-político que conserva características humanas como estilo de viver, reflicta e reconsidere as suas posições. Esperemos que o “não” da intolerância ceda lugar ao “sim” que abre fronteiras e instaura uma verdadeira comunhão de diferentes dentro deste mundo tão egoísta e individualista.”

Maria da Conceição

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quarta-feira, julho 6

 

Música Celestial

1º andamento – allegro molto vivace

Na semana passada estive para aqui a rebater a ingénua mas compreensível e tão alemã surpresa do nosso Lutz, sobre a forma como este grupo de católicos que habita aqui na Terra, gente tão moderna e tolerante, ignora olimpicamente os inefáveis e preciosos frutos do Iluminismo Europeu. Agora que, penso eu, tudo está claro, vou passar inexoravelmente à próxima questão, uma questão gravíssima aliás.
Este moço estrangeiro, ainda por cima de origem protestante, vem acusar-nos a nós católicos de uma espécie de servidão intelectual face à Santa Madre Igreja que nos acolhe espiritualmente. E fá-lo dando exemplos surpreendentes. O Timshel , indivíduo de mistério, uma espécie de supra-numerário montanista de sólida base trotskista, alguém que alia o desejo de coerência doutrinal à exigência da radicalidade da prática, enfim uma espécie de Bové libertário com um afável espírito normativo e, ainda assim, especulativo. O Bernardo Motta, outro indivíduo de mistério, autor publicado, vindo das trevas do esoterismo e chegado à claridade do Catecismo, católico tradicionalista mas sincrético, atento leitor de René Guénon mas também de Ananda Coomaraswamy. E é a propósito destes nossos dois amigos, tão profundamente atípicos, que o Lutz, em cuja mente ressoa ainda com certeza o teutónico “ördnung müss sein”, vem descobrir sinais duma aviltante aproximação ao pensamento oficial. E ele é impiedoso: “há aqui algo que não passa despercebido: a ideia da obrigação de acreditar numa determinada doutrina.” , “isto (a emancipação das ideias )é uma evidência banal. Para qualquer intelectual? Não. Não é para o teólogo católico! Para ele continua válido o argumento da autoridade. Porque o S. Tomás assim disse, porque o Papa assim diz, tenho, se sou católico, obrigação de pensar e acreditar duma determinada forma! Se não conseguir à primeira, espera-se um esforço de mim para que me convenço, não por força de argumentos, mas por força de autoridade.”
Às tuas palavras, Lutz, estes nossos amigos reagiram com um piedoso e caritativo silêncio, de quem está habituado a dar a outra face. Mas eu não pois eu, qual S.Tomás de Aquino lançando a sua “Summa Contra Gentiles”, ou mais ainda, qual César das Neves na sua coluna do DN, eu vou reagir e afirmar a alto e bom som a inegável, enorme e terrível independência de espírito que é apanágio do catolicismo mais ortodoxo. É que é já a seguir.

2ºandamento – andante con brio

Queira o Herrn Brückelman saber que eu nunca li o Catecismo da Igreja Católica. Nem o novo nem o velho. Nunca. Nem em português nem em espanhol nem em alemão. Não sei sequer um ditame que te possa citar de cor excepto, se lá estiverem, os 10 Mandamentos.
Já li, isso sim, bastantes Livros da Bíblia, seguindo aliás o conselho dos teus patronos Meister Eickhart e Lutero. E já li também bastante sobre a História da minha Igreja, não apologias e laudatórias mas coisas mais duras, daquelas com que se comprazem os ateus. Li isso numa altura em que tinha perdido a fé e li mais tarde, quando já a tinha recuperado.
No meu artigo inaugural aqui na Terra da Alegria, eu disse uma coisa banal mas verdadeira, que “o que me fez e ainda faz ser cristão é mesmo Cristo, a Sua pessoa, a Sua palavra, a Sua vida”. E que “quanto ao meu catolicismo, eu sei bem que a história da minha Igreja é uma história complicada, nem sempre coerente com a Palavra. Mas apesar do que fez e do que faz, a Igreja Católica consegue ainda ao fim de 2.000 anos dar-nos pleno acesso à Palavra e Vida de Cristo para que «acreditemos que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhamos a nossa vida em seu nome». A força da Palavra é demasiado grande face às fraquezas da sua Igreja. Isso me basta. Isso agradeço. Por isso, permaneço.”
Contei também um dia, no Guia, que mesmo tendo eu perdido a fé, estranhamente nunca deixei de ir à missa e ia lá, a uma daquelas mesmo mázinha, precisamente para justificar a minha descrença. Até que um dia, ao escutar a leitura do episódio do filho pródigo, ao sentir-me tão identificado com o irmão mais velho, iniciei um percurso de reflexão que me trouxe de regresso à fé. Foi portanto pela reflexão, não sei se pela razão, que atingi a fé que hoje tenho. Ora se foi a reflexão que aqui me trouxe, tem sido também a reflexão que por aqui me tem mantido. Para ser totalmente honesto, não será apenas a reflexão pessoal sobre os textos da fé e sobre a vida à luz da fé. Será também um sentimento de pertença a uma entidade que, mais do que uma comunidade de crentes, mais do que uma dispensadora da Palavra de Deus e uma administradora de bençãos salvíficas, me parece ser uma entidade com substância teológica própria. Talvez ainda mais do que tudo isso: sinto a minha Igreja, pela sua História tão polémica mas onde se adivinha um sentido, pela sua natureza tão multipolar mas onde se anseia pela unidade, pela dicotomia agreste entre a parte eclesiática e a parte laical, pela permanente contradição entre um conservadorismo caturra e um desejo de ultrapassar os limites da natureza humana, sinto essa minha Igreja como o melhor campo que posso imaginar para que, um dia, talvez, se Deus o quiser, eu venha verdadeiramente a ser cristão.
É precisamente por isso que, enquanto católico, convivo bem com a enorme diversidade desta casa que acredito ser de Deus, uma casa onde convivem e esbracejam guardiões severos da doutrina e teólogos especulativos, vendedores e compradores de indulgências, crentes que não praticam e praticantes que não compreendem, santos que querem salvar todos nós e iluminados que descobriram o caminho e já o reservaram para os seus seguidores, priveligiados pela Graça Divina e obreiros que se oferecem ao próximo, encenadores de liturgia e leigos que a dispensam, caçadores gnósticos e artesões de doutrina.
Ora assim sendo, é fácil de perceber que nem a minha fé católica nem a minha pertença à Igreja Católica, mesmo a minha participação num movimento de leigos de base, nada disso tem perturbado a minha liberdade de pensar a minha crença, nada tem aliás perturbado o meu atávico individualismo, também aqui no domínio da fé que tenho.
É claro que na Igreja, enquanto instituição, existiu e existe ainda uma forte pulsão normalizadora e reguladora da doutrina revelada. Nada mais natural para uma instituição vergada pelo peso da missão que lhe coube e mais vergada ainda pela eternidade a que foi obrigada. Discordo de muitas coisas que saem da cabeça da Igreja mas reconforta a minha fé vê-la funcionando assim. Até porque não tendo eu, como ninguém tem, o justo conhecimento de mim próprio, nunca sei a razão exacta da minha discordância, se é de razão, se é de conveniência.
E é claro também que muitos dos meus irmãos na fé católica a tem de forma mais normativa e catecumenal. Uns, por questão de maior comodidade, procuram cartilhas simples sobre em que acreditar e como viver aquilo em que acreditam. Outros, para maior garantia da sua salvação eterna, procuram outorgá-la à intercessão dos instrumentos que a Igreja sempre lhes oferece. Outros ainda, talvez os melhores de entre nós, procuram com a humildade da obediência seguir melhor o ensinamento e vida de Cristo, procuram sobretudo combater a inflamabilidade dos egos para fugirem à tentação que foi pecado original.
Resumindo, a Igreja oferece coisas diferentes a fiéis que lhe solicitam coisas diferentes. Mas nós todos, fiéis e clero, felizes e insatisfeitos, convictos e minados pela dúvida, fanáticos e almas doces, todos cabemos nela e ela cabe toda em nós. Sem prejuízo da salvaguarda da doutrina de que a Igreja é fiel depositária e sem prejuízo da nossa liberdade de pensamento, liberdade de escolha, liberdade de vida, liberdade até de renunciar à liberdade.
Pensando bem, muito mal seria que Deus tivesse carregado o Homem com o peso do livre arbítrio e nos negasse a liberdade na escolha do caminho de regresso a Ele.

3ºandamento – scherzo giocoso

Termino com uma história pessoal, verídica e bem representativa da tremenda bigorna moral e intelectual em que vivem os católicos de hoje.
Nunca disse isso aqui, mas eu sou dos que acreditam na eficácia dos sacramentos, sobretudo de alguns deles. Um daqueles em que eu acredito piamente é no chamado sacramento da reconciliação, conhecido aí fora pelo infamado nome de confissão. Acredito verdadeiramente e experimentei sensorialmente que o irmos prestar contas a Deus por intermédio dum homem como nós mas mandatado para receber os nossos insondáveis segredos, é uma ocasião única e preciosa para nos vermos a nós próprios, não como gostamos de nos ver mas talvez com os olhos de Deus. Para mim, a confissão é um processo periódico e terapêutico para readquirir uma humildade que foge de mim por todos os poros. Não é certamente canónico dizê-lo (e depois?) mas para mim o sacramento da comunhão só faz sentido como sequência deste. Mas adiante.
Há uns anitos já, numa daquelas alturas sacramentais, fui confessar-me a uma velha igreja do centro de Lisboa, cabendo-me em sorte um sacerdote já velhinho mas ainda rijo, com uma expressão permanentemente irada, devida talvez à raiva que ele sentia em ver a sua igreja mais cheia de pombos do que de fiéis. Comecei a confissão com a costumada crónica da minha vida egoísta. Ao correr da conversa encalhámos num detalhe narrativo, coisa inócua pensava eu, mas à qual aquele santo varão atribuiu uma importância tremenda. De voz trémula mas dura, quase brandindo o rosário contra mim, o sacerdote perguntava-me repetidamente: “Mas arrependes-te ou não? Estás em pecado terrível contra Deus! Se és cristão exijo que te arrependas!” Completamente perplexo com a situação, tentei trazer o sacerdote à mesa das negociações, tentei perceber em que parte do Evangelho ou do catecismo estava tão medonha sanção para coisa que me parecia tão banal. Mas de nada serviu, acabei por ouvir uma voz, tremenda e tremente, repelindo-me violentamente: “Pois eu não te absolvo! Vai-te daqui, filho da treva!”. E eu lá fui, cabisbaixo mas sobretudo pasmado. Ao saír daquela igreja tive contudo uma inspiração: atravessei a rua e entrei na da frente! Sentei-me no confessionário e comecei logo a explicar: “Sr.Padre, devo informá-lo que venho agora mesmo dum colega seu que me recusou a absolvição por eu lhe ter dito isto e isto...”. Ora este novo padre, que não era assim tão novo, riu bastante e disse-me: “Tolices! Tens que perdoar ao meu colega que além de um pouco duro de coração é também duro de ouvido. Faz-lhe a caridade de pensares que ele percebeu mal aquilo que lhe disseste. Conta lá então da tua vida...”
E passou-se isto nesta suave Lisboa que eu amo, no seio da Santa Madre Igreja que eu amo também. E pensando naqueles que nos veem, a nós católicos, vergados pelo peso da Doutrina e da Tradição, recordo aquelas doces palavras de Jesus, contadas por Mateus: «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve
E pronto, acabei.

José [GUIA DOS PERPLEXOS]

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Os limites do homem (4): a razão e a Fé.

(as partes entre aspas e em bold do texto que se segue são palavras do Cardeal Ratzinger - este post, tal como alguns posts anteriores, e tal como o próximo post, é baseado nessas palavras; o próximo post será aliás o último post desta série de cinco posts sobre as palavras que o Cardeal Ratzinger proferiu em Abril de 2005, pouco tempo antes de se tornar o Papa Bento XVI)

O texto que aqui postei a semana passada terminava com uma questão. O cardeal Ratzinger perguntava:"Será que com isto pretendemos rejeitar simplesmente o iluminismo e a modernidade?"
Eis a resposta:
"Não, absolutamente. O cristianismo, desde o início, compreendeu-se a si mesmo como a religião do logos, como a religião conforme à razão."
Porque a religião não é incompatível com a razão. A religião é um mero complemento da razão. Cristo apareceu para revelar a Verdade. Uma verdade que não é acessível apenas pela razão. Uma verdade que não é acessível apenas através de uma razão "passiva" mas que exige opções, escolhas, liberdade.

"O cristianismo, como religião dos perseguidos, como religião universal, acima dos vários Estados e povos, negou ao Estado o direito de considerar a religião como uma parte do sistema estatal, postulando assim a liberdade da fé. Sempre definiu os homens, todos os homens sem distinção, como criaturas de Deus e imagem de Deus, proclamando como princípio a sua igual dignidade."
O iluminismo, que surgiu muito depois do cristianismo é um simples reflexo do cristianismo. E o seu erro supremo foi simplesmente a causa e consequência do modo como nasceu: ele foi uma reacção à falta de humildade da Igreja e mimetizou essa falta de humildade.
"O iluminismo é de origem cristã e nasceu, não por acaso exacta e exclusivamente no âmbito da fé cristã. Nasceu lá onde o cristianismo se tornou infelizmente, contra a sua própria natureza, uma tradição e religião de Estado. Apesar da filosofia, entendida como procura de racionalidade – também da nossa fé –, ter sido sempre apanágio do cristianismo, a voz da razão tinha sido demasiado domesticada. Foi e é mérito do iluminismo ter proposto novamente estes valores originários do cristianismo e ter dado novamente à razão a sua voz própria. O Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a Igreja no mundo contemporâneo, evidenciou novamente esta profunda correspondência entre cristianismo e iluminismo, procurando chegar a uma verdadeira conciliação entre Igreja e modernidade, que é o grande património que deve ser tutelado por ambas as partes."

E agora que chagámos à conclusão que o erro e o pecado (tal como o Bem) fazem parte da natureza humana e se encontram por toda a parte, em "nós" como "neles", que fazer?
"É preciso que ambas as partes reflictam sobre si próprias e estejam prontas a corrigir-se.O cristianismo deve lembrar-se sempre que é a religião do logos. O cristianismo é fé no Creator spiritus, no Espírito criador, do qual provém todo o real. É justamente esta fé que deveria ser hoje a sua força filosófica, pois o problema é se o mundo provém do irracional – e portanto, se a razão não é outra coisa senão um “subproduto”, talvez prejudicial, do seu desenvolvimento - ou se o mundo provém da razão – e se por conseguinte esta é o seu critério e a sua meta.A fé cristã tende para esta segunda tese, tendo assim do ponto de vista puramente filosófico, muito boas cartas para jogar, embora seja a primeira tese a que hoje é considerada por muitos como a única “racional” e moderna. Mas uma razão que brota do irracional e que, no fim de contas, é ela própria irracional, não constitui uma solução para os nossos problemas. Somente a razão criadora, e que se manifestou como amor no Deus crucificado, pode verdadeiramente mostrar-nos o caminho."

Timshel [TIMSHEL]

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Sexo à nora

Os bispos defenderam, numa nota divulgada na semana passada, que «a família é a primeira comunidade responsável pela educação das crianças, dos adolescentes e dos jovens». O debate também divide católicos. Porque há limites. E limitações. Retenho o essencial de um texto (jornalístico) que escrevi a propósito (sem nomes, para evitar outras leituras). As frases não são todas minhas, mas reflectem o que também penso. E da sexualidade vista pela igreja e pelos católicos já também por cá falei (vejam nos arquivos, que me falta tempo para isso, caros leitores).

Sabemos: a família é a primeira responsável pela educação para a sexualidade.
Mas – há sempre um "mas": na prática isso nem sempre acontece. Muitos pais não sabem ou não abordam essas questões e, se abordam, fazem-no muitas vezes de forma ligeira, eventualmente preconceituosa e não suficientemente informativa.
O documento dos bispos aponta preocupações: «A escola é subsidiária da família e [neste campo] compete à família decidir as orientações educativas básicas que deseja para os seus filhos, decorrentes dos seus valores, crenças e quadro cultural». Há quem prefira outra abordagem: «No campo da informação deve partir-se daquilo que os miúdos querem saber e não de um programa pré-estabelecido». Mesmo que, na escola, os alunos reproduzam preconceitos e estereótipos: «Eles têm de habituar-se que há outros que pensam de outra maneira e não devem ter como resposta verdades absolutas» da boca dos professores, dizia-me uma professora.
Uma disciplina como esta «exige um perfil de professor para a educação sexual, atento, aberto, que não seja dogmático e que responda exactamente ao que o aluno pergunta: nem mais nem menos», defende-se. «A educação da sexualidade ao implicar relações interpessoais implica uma educação para a ética».
Mas também é absolutamente impensável negligenciar o que os bispos chamam de práticas minoritárias, nomeadamente o sexo entre adolescentes. São questões muito importantes. Apesar disso, ressalve-se: a educação sexual não poderá ser só informação sobre órgãos sexuais, de luta contra a sida e a gravidez precoce. Por isso, a escola tem de usar toda a prudência, para que as crianças, adolescentes e jovens vivam a sexualidade de forma responsável, informada e humana. Mas, ninguém está a querer perverter ninguém - está-se a querer ajudar. E, no meio desta confusão toda, faltou aos senhores bispos uma coisa: perguntarem às famílias e (mais ainda) aos miúdos como pode ser a escola espaço de educação sexual.

Nota final: se na educação sexual «compete à família decidir as orientações educativas básicas que deseja para os seus filhos, decorrentes dos seus valores, crenças e quadro cultural», não poderão algumas famílias (pais e filhos) exigir uma escola que seja "laicizada" ao ponto da educação moral e religiosa ficar de fora? Posto de forma simplista, é certo, o argumentário acaba por poder valer para os dois lados.

Miguel Marujo [CIBERTÚLIA]

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Dimensões sociais: o dito e o não dito

Duas notas saídas da última Conferência Episcopal Portuguesa, reunida em Fátima no passado dia 23 de Junho, merecem um olhar mais atento. Deu-se o caso de, por dever de amizade, me ter deslocado ao Santuário de Fátima nessa noite, na companhia de um padre amigo. Talvez por essa razão, os bispos foram tão inspirados nas suas palavras - sábias, como é hábito que faz o bispo.


1. Um dos documentos, uma nota pastoral, intitula-se Um olhar de responsabilidade e de esperança sobre a crise financeira do país. Reflecte sobre as «medidas anunciadas pelo Governo da Nação, em ordem a resolver o problema do défice das contas públicas do Estado», que «ameaçam penalizar ainda mais aqueles que já são mais sacrificados, pela situação de pobreza ou de falta de trabalho, pela doença e pela desajustada carga fiscal». Não é o PCP ou o BE a falar: o documento relembra, a propósito, «alguns aspectos da doutrina social da Igreja, que devem inspirar o comportamento dos cristãos e de quantos procuram o melhor para o país».
Quanto às medidas a tomar pelos responsáveis políticos, elas devem, no entender dos bispos, «ser globais e não particulares, privilegiando aquelas que não se limitam a resolver aspectos imediatos do problema, mas são portadoras de solução a médio e longo prazo, como o são, por exemplo, o investimento na inovação tecnológica, uma economia geradora de emprego, uma educação para a liberdade responsável, a análise aprofundada das causas da pobreza e a responsabilização social». Podiam também ser estas as palavras vazias de um qualquer deputado da 3ª fila do PS ou do PSD (ou um qualquer do PP), não fosse o sublinhar da urgência da análise aprofundada das causas da pobreza e a responsabilização social.
Por último (um último escolhido por mim, que há mais para ler - ide consultar o documento), um apelo (para fazer uma referência ao sr. presidente) à necessidade do contributo de todos: «o que se pede a cada um deve ter em conta a sua situação peculiar, não pedindo o mesmo a pobres e ricos, não descurando os doentes e as pessoas dependentes, não fragilizando as famílias, já tão atingidas por fenómenos como a desagregação ou endividamento insustentável. Em todas as políticas, mas de modo particular nas políticas de austeridade, há grupos sociais que precisam de uma atenção particular, porque quando se agravam os seus problemas, agravam-se inevitavelmente os problemas de toda a comunidade». De todos. Pensionistas ou ministros das finanças. Parece-me.

2. Outro documento que merece referência é a nota sobre Educação da Sexualidade. Aqui, importa tanto o que se diz, como o que não se diz. Os bispos, como os bons poetas, escolhem bem as palavras. Não dizem nem mais nem menos do que querem dizer. Daí que tenha muita importância o que calam.
Depois de reconhecerem a evidência da sexualidade como «um dos núcleos estruturantes e essenciais da personalidade humana», a nota refere a «dimensão social da sexualidade, uma vez que os encontros e desencontros de uma relação contribuem para amadurecer, em cada homem ou mulher, dinamismos de doação, de entrega, de abertura aos outros e ao mundo».
E mais: «a sexualidade humana, correctamente entendida, tem uma ligação profunda com o amor e só nele encontra o seu verdadeiro sentido. Desta ligação resulta o papel central da sexualidade na vida humana, factor decisivo para o desenvolvimento harmonioso da pessoa que só se atinge no amor». Assim, «a educação da sexualidade não se resume a mera informação sobre os mecanismos corporais e reprodutores, como tantas vezes tem acontecido, reduzindo a sexualidade à dimensão física possível de controlar com vista à prevenção contra o contágio de doenças sexualmente transmissíveis e o surgimento de gravidezes indesejadas. Desta forma, deturpa-se o sentido da sexualidade, isolando-a da dimensão do amor e dos valores, e abre-se caminho à vivência da liberdade sem responsabilidade, pela ausência de critérios éticos, e à aceitação, por igual, de múltiplas manifestações da sexualidade, [tais como] as relações corporais sem dimensão espiritual porque o amor e o compromisso estão ausentes».
Parece o mesmo discurso de sempre, não parece. Parece. Mas não é. Ora leiam com mais cuidado e atenção. Hummmm.... Não falta nada? Falta, sim, e essa é a novidade. Noutra ocasiões, mesmo num passado recente, a última frase teria a palavra sacra "matrimónio", esse sacramento mágico que valida (e só se torna válido com) as relações sexuais.
Nas palavras da Conferência Episcopal, uma sexualidade plena «tem profunda ligação com o amor e só nele encontra o seu verdadeiro sentido» e apenas é censurável uma sexualidade onde «o amor e o compromisso» estejam ausentes. Alguém falou em matrimónio?
Sobre o resto do documento, já escreveu o Miguel. Eu contento-me com o que não está lá.

Carlos Cunha [A QUINTA COLUNA]

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